"Ele pode estar olhando as suas fotos. Neste exato momento. Porque
não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí? Pode ser que
ele faça todas as coisas que você faz. Escondida. Sem deixar rastro nem
pistas. Talvez ele passe a mão na barba mal feita e sinta saudade do
quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na
tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas.
Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos
os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler seus
bilhetes, procurar o seu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as
suas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta
acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não
há escape. Talvez ele perceba que você faz falta. E diferença. De alguma
forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem
passará aquele tão sonhado verão em Paris. Talvez ele volte. Ou não."
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